segunda-feira, 30 de abril de 2012

O Tao do Superego

Há alguns dias conversava com um amigo. Falava com ele sobre a aniquilação do ego como princípio budista e ele me veio com o seguinte questionamento:

"Sempre que pratico uma boa-ação, tem uma voz chata na minha mente que diz 'Você só fez isso para que as pessoas te olhem como O BONZINHO', e isso me faz pensar que eu só pratico boas-ações para ser visto por outros e agradar meu eu."

Na mesma hora, lembrei-me de meus esporros psico-analíticos que recebi (e ainda recebo) de minha mãe. Tudo, sim, muito teórico, isto é, nada de "Você não faz nada em casa!" e sim "Larga disso, Édipo, e vai viver sua pulsão de morte longe de mim!"

Tragédias gregas e louças do almoço à parte, voltemos à discussão inicial.

Esse tipo de questionamento é bem comum e, segundo a psicanálise de Freud, tem a ver com o Superego e o Id, duas instâncias do inconsciente. (Não, você não pode perceber quando elas agem!). O Superego é aquele cara na nossa cabeça que está sempre nos dizendo "Você ta todo errado!" ou "Podia ter feito melhor!" - Tipo nossas mães mesmo. MESMO. Em contrapartida, tem aquele cara que diz "Que se f***, vou fazer mesmo, to nem ai, uhul, vidaloka lelesk yeah!". Esse é o Id. 


Em termos gerais, vivemos nessa luta entre o Superego e o Id. Entre a mamãe repressora e o colega que fuma um base na rua de cima. Entre o "Você ta errado" e o "Dane-se IRAIRIAIRAIRI". Entre o "Estuda mais, você nao estudou o suficiente pra prova amanhã!" e o "To nem aí, vou tirar zero mesmo!" Entre o "Você só pratica boas ações e escreve sobre budismo num blog pra parecer O Fodão" e "Quero escrever mesmo, to nem aí pro que os ouros vão pensar, sou O Fodão mesmo!".


Já leram aquele livro "O Médico e o Monstro" (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde), do R.L. Stevenson?


Depois de ler alguma coisa sobre Tai-Chi e o Taoismo, só fui entender realmente a luta entre os opostos após reler esse clássico.


Sim. Opostos são parte da vida. Há uma filosofia bem antiga na China que se baseia nisso: o Taoísmo.

No Taoísmo, a base de tudo o que existe são os opostos: Yin e Yang - aquela bolinha metade preta, metade branca que seu amigo da academia tem pendurada no pescoço. O quente e o frio, o seco e o molhado, o verão e o inverno, o bem e o mal, o claro e o escuro, a vida e a morte... Os opostos esão em constante luta e fazem de nossa vida um fluxo que, se não aprendermos a lidar, acaba por nos fazer sofrer pois, talvez, o que eu tenho hoje é "o oposto" do que eu queria! O oposto. É aí que entra o Tao, o equilíbrio - aquelas velhinhas que fazem aquela coreografia com leques numa praça na China estão vivendo exatamente isso, elas acreditam que os movimentos Tai-chi-chuan as ajudam a atingir o equilíbrio entre Yin e Yang. Cool isn't?


Retomando nossa questão inicial: o que fazer para superar a batalha entre o Superego que nos condena e o Id que nos impulsiona?


(É claro que nós não podemos forçar nossa mente a fazer a Posição do Dragão ou o Guerreiro Montado no Cavalo como as velhinhas chinesas!)


A resposta é o equilíbrio.


Equilíbrio nesse aspecto é encontrar um ponto entre Superego e Id. E esse ponto não deve satisfazer ao Superego nem ao Id, mas ao Eu. Para Freud Eu é um terceiro carinha. É que ficaentre o Superego e o Id. O nosso Eu deve buscar o equilbrio entre a condenação e a pulsão.


No caso do meu amigo, eu apenas lhe disse: "Cara, quando essa voz chata aparecer na sua mente diz pra ela 'Pelo menos eu to aparecendo fazendo o bem ne?!'"

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